As bactérias têm driblado os antibióticos convencionais e, assim, desafiado cientistas a criar fórmulas capazes de contê-las. Uma equipe da Universidade Católica de Brasília (UCB) trabalha em parceria com instituições de ensino de países como Cuba, Austrália, Japão e Estados Unidos para desenvolver novos medicamentos à base de proteínas extraídas de flores. Espécies que enfeitam os jardins estão servindo de matéria-prima para o combate a infecções.
As flores viraram um dos focos do trabalho porque os pesquisadores desconfiaram que as proteínas ali encontradas pudessem ser mais eficientes, justamente por servirem de defesa do sistema reprodutor das plantas. A suspeita se confirmou. De 18 espécies analisadas inicialmente, algumas nativas do cerrado, se destacaram a maria-sem-vergonha (Catharanthus roseus), o hibisco (Hibiscus rosa-sinensis) e a pata-de-vaca (Bauhinia forticata).
Elas se mostraram eficazes, em laboratório, no ataque a bactérias já resistentes a antibióticos convencionais. As flores são trituradas em liquidificador e, depois, colocadas em contato com os micro-organismos. A observação permite aos cientistas concluir que proteínas presentes nessas flores inibem o avanço de pelo menos dois grupos de bactérias: a klebsiella, que provoca infecção pulmonar, e a E.coli, responsável por infecções intestinais.
Os pesquisadores perceberam que as proteínas dessas três espécies matam mais bactérias e em menor concentração, se comparadas a antibióticos convencionais. As plantas são bem conhecidas e encontradas com facilidade, fator que pode ajudar na hora de comercializar o produto final. Os cientistas estimam que o preço dos antibióticos a partir das flores venha a custar um décimo do valor dos que estão no mercado. Hoje, uma caixa com 12 comprimidos sai, em média, por R$ 100.
Paciência
A batalha contra os micro-organismos, no entanto, exige paciência. As pesquisas começaram há três anos e ainda devem se arrastar por um bom tempo. Os cientistas precisam descobrir exatamente quais proteínas das flores têm o poder de enfrentar as bactérias. O grupo ainda testará a fórmula em ratos, cachorros e macacos, antes de comprovar a eficiência em humanos. A previsão é que sejam necessários no mínimo mais quatro anos para conseguir a patente, o que impedirá a cópia da ideia.
Depois de superar as burocracias da patente, os pesquisadores terão de convencer o mercado da importância de contar com novos antibióticos. Os laboratórios das universidades não têm condições de produzir e distribuir os futuros medicamentos. “Não é apenas necessário, é imprescindível termos novos compostos capazes de frear as bactérias”, comenta o coordenador das pesquisas e do Centro de Análises Proteômicas e Bioquímica da UCB, Octávio Luiz Franco, 32 anos.
As bactérias super-resistentes são um problema sério e mundial, destaca Franco. O caso da modelo capixaba Mariana Bridi Costa, de 20 anos, que morreu em janeiro deste ano ao sofrer uma infecção urinária provocada por um bactéria ilustra o que, na avaliação do professor, é uma tendência. “Casos como o dela acontecem todos os dias no mundo inteiro. Mas, para as empresas, produzir mais viagra dá mais dinheiro”, diz o pesquisador, ao alertar para a possibilidade de contaminações em larga escala.
Batalha desigual
O professor Franco deixa claro que, apesar dos avanços da ciência, a batalha entre os cientistas e as bactérias ainda é desigual. A descoberta de novos medicamentos precisa, então, ser permanente. “Quanto mais descobrimos coisas novas, mais elas (as bactérias) aprendem a criar resistência. Se não fosse a tecnologia, estaríamos perdidos”, afirma. “A ideia dos novos antibióticos é encontrar uma maneira de controlar o máximo possível esse avanço”, completou.
As pesquisas do grupo, ligado ao curso de pós-graduação em ciências genômicas e biotecnologia da UCB, exigem um investimento de cerca de R$ 1 milhão por ano em equipamentos e mão de obra. O dinheiro sai da própria universidade, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal e de Minas Gerais.
A equipe coordenada por Franco é formada por 40 pessoas e é a única no Brasil a trabalhar com flores para se chegar a antibióticos. As proteínas das flores também são testadas para combater fungos. Em 2006, o grupo patenteou a fórmula de um antibiótico à base de proteínas extraídas de sementes de goiaba e maracujá. O medicamento ainda não ganhou o mercado porque as empresas interessadas não começaram a investir nele. Culpam a crise econômica.
» Áudio: ouça entrevista com Octávio Luiz Franco, coordenador das pesquisas e do Centro de Análises Proteômicas e Bioquímica da UCB
As flores viraram um dos focos do trabalho porque os pesquisadores desconfiaram que as proteínas ali encontradas pudessem ser mais eficientes, justamente por servirem de defesa do sistema reprodutor das plantas. A suspeita se confirmou. De 18 espécies analisadas inicialmente, algumas nativas do cerrado, se destacaram a maria-sem-vergonha (Catharanthus roseus), o hibisco (Hibiscus rosa-sinensis) e a pata-de-vaca (Bauhinia forticata).
Octávio Franco, coordenador da pesquisa
Os pesquisadores perceberam que as proteínas dessas três espécies matam mais bactérias e em menor concentração, se comparadas a antibióticos convencionais. As plantas são bem conhecidas e encontradas com facilidade, fator que pode ajudar na hora de comercializar o produto final. Os cientistas estimam que o preço dos antibióticos a partir das flores venha a custar um décimo do valor dos que estão no mercado. Hoje, uma caixa com 12 comprimidos sai, em média, por R$ 100.
Paciência
A batalha contra os micro-organismos, no entanto, exige paciência. As pesquisas começaram há três anos e ainda devem se arrastar por um bom tempo. Os cientistas precisam descobrir exatamente quais proteínas das flores têm o poder de enfrentar as bactérias. O grupo ainda testará a fórmula em ratos, cachorros e macacos, antes de comprovar a eficiência em humanos. A previsão é que sejam necessários no mínimo mais quatro anos para conseguir a patente, o que impedirá a cópia da ideia.
Depois de superar as burocracias da patente, os pesquisadores terão de convencer o mercado da importância de contar com novos antibióticos. Os laboratórios das universidades não têm condições de produzir e distribuir os futuros medicamentos. “Não é apenas necessário, é imprescindível termos novos compostos capazes de frear as bactérias”, comenta o coordenador das pesquisas e do Centro de Análises Proteômicas e Bioquímica da UCB, Octávio Luiz Franco, 32 anos.
As bactérias super-resistentes são um problema sério e mundial, destaca Franco. O caso da modelo capixaba Mariana Bridi Costa, de 20 anos, que morreu em janeiro deste ano ao sofrer uma infecção urinária provocada por um bactéria ilustra o que, na avaliação do professor, é uma tendência. “Casos como o dela acontecem todos os dias no mundo inteiro. Mas, para as empresas, produzir mais viagra dá mais dinheiro”, diz o pesquisador, ao alertar para a possibilidade de contaminações em larga escala.
Batalha desigual
O professor Franco deixa claro que, apesar dos avanços da ciência, a batalha entre os cientistas e as bactérias ainda é desigual. A descoberta de novos medicamentos precisa, então, ser permanente. “Quanto mais descobrimos coisas novas, mais elas (as bactérias) aprendem a criar resistência. Se não fosse a tecnologia, estaríamos perdidos”, afirma. “A ideia dos novos antibióticos é encontrar uma maneira de controlar o máximo possível esse avanço”, completou.
As pesquisas do grupo, ligado ao curso de pós-graduação em ciências genômicas e biotecnologia da UCB, exigem um investimento de cerca de R$ 1 milhão por ano em equipamentos e mão de obra. O dinheiro sai da própria universidade, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal e de Minas Gerais.
A equipe coordenada por Franco é formada por 40 pessoas e é a única no Brasil a trabalhar com flores para se chegar a antibióticos. As proteínas das flores também são testadas para combater fungos. Em 2006, o grupo patenteou a fórmula de um antibiótico à base de proteínas extraídas de sementes de goiaba e maracujá. O medicamento ainda não ganhou o mercado porque as empresas interessadas não começaram a investir nele. Culpam a crise econômica.
» Áudio: ouça entrevista com Octávio Luiz Franco, coordenador das pesquisas e do Centro de Análises Proteômicas e Bioquímica da UCB
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