domingo, 10 de maio de 2009

Distúrbios do sono atingem metade da população mundial, mas ainda são desconsiderados por muitos médicos

No DF, há cinco laboratórios — apenas um público — dedicados a diagnosticar esses problemas

Rodolfo Borges



Publicação: 09/05/2009 08:10 Atualização: 09/05/2009 08:20
Tadeu Osmala costumava passar o dia inteiro cansado, com sono, sem entender por quê. A mulher dele reclamava toda manhã dos roncos do marido e alertava o funcionário público de 53 anos sobre as várias vezes em que ele havia tido falta de ar durante a noite. Os sintomas indicavam que Tadeu poderia sofrer de algum distúrbio do sono, mas o problema só foi descoberto depois que seu cardiologista o encaminhou para fazer uma polissonografia. O exame, que registra a atividade cerebral, muscular e respiratória enquanto o paciente dorme, indicou a existência de apneia do sono, doença que acomete 4% da população mundial de 30 a 60 anos.

A apneia, uma obstrução parcial ou total da faringe, dificulta a respiração durante o sono e pode causar problemas circulatórios. É apenas um dos inúmeros distúrbios que podem levar à depressão ou à dependência química e provocar de acidentes de trânsito a prejuízos à memória. Metade da população mundial sofre com distúrbios do sono, alerta a mestre em medicina do sono Ana Paula Megale Hecksher, mas nem a comunidade médica atentou para a importância do assunto. “Os médicos só estão se informando agora”, critica o professor Carlos Alberto Viegas, coordenador do Laboratório do Sono do Hospital Universitário de Brasília (HUB).

Cadu Gomes/CB/D.A Press
Urley Nunes sofre de narcolepsia: sono de uma hora para a outra
Segundo Viegas, 40% dos pacientes que apresentam pressão arterial alta enfrentam essa condição por causa de distúrbios do sono. “Tem muito cardiologista que não sabe disso. Como é que eles vão tratar a causa se não a conhecem?”, questiona o professor, que lembra que nós dormimos um terço de nossas vidas. “É o sono que nos prepara do ponto de vista físico e psíquico”, completa.

As dificuldades de sono podem ser motivadas por diversos fatores, desde a condição física do paciente até alterações neurológicas. O assunto ainda é novo na área médica, mas abrange diversas especialidades. Trabalham com medicina do sono profissionais de psiquiatria, pneumologia, neurologia e otorrinolaringologia, mas a área também envolve odontologistas, fisioterapeutas, psicólogos, fonoaudiólogos e profissionais de educação física.

Defasagem
O Brasil conta com apenas três laboratórios do sono públicos, um deles no HUB. O serviço do hospital é pioneiro no país (inaugurado na década de 1980), mas perdeu prestígio com o passar dos anos. A falta de dinheiro e o desgaste dos equipamentos periféricos (eletrodos, câmeras e sensores) diminuíram os atendimentos de quatro para um por dia. Neste mês, o HUB ainda atende pacientes da lista do ano passado. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 3448-8596. Além do laboratório da universidade, a cidade tem quatro clínicas particulares certificadas pela Associação Brasileira do Sono. O site da entidade é www.sbsono.com.br

Quem passar o dia cansado ou com sono e tiver problemas para se concentrar deve fazer como o contador Urley Antônio Nunes Carvalho, 29, que procurou um laboratório do sono. Urley era tido como indolente na adolescência, porque passava a maior parte do dia sonolento. O contador sofreu 11 anos com essa condição, até conhecer o serviço do HUB e descobrir que tinha narcolepsia. “Eu costumava dormir de uma hora para a outra, no meio da rua”, lembra. Uma vez, o rapaz caiu no sono enquanto caminhava.

No HUB, Urley encontrou outros narcolépticos e começou a tratar seu distúrbio em grupo. O contador tomou remédios para se tratar e, instruído pelos médicos, modificou hábitos. “Passei a dar mais valor ao meu sono, dormir mais cedo. Também aviso a todos com quem convivo sobre minha condição. Todo mundo colabora”, diz.

O tratamento de Urley não é barato, a exemplo de outras terapias para distúrbios do sono. Os exames periódicos que ele precisa fazer custam em torno de R$ 500. No caso da apneia, o preço de um aparelho para ajudar a dormir pode chegar a R$ 3 mil. Tadeu Osmala, que desenvolveu o distúrbio como consequência da obesidade, terá de dormir com o aparelho até emagrecer.

Nenhum comentário: