domingo, 7 de dezembro de 2008

Caminho do Rio para o Oceano Pacífico

06/12/2008 20:08:00

Ferrovia cruzaria seis estados e se interligaria ao sistema do Peru

BRASÍLIA - O litoral norte do Estado Rio foi escolhido para ser o ponto inicial de um dos maiores projetos de integração nacional. A EF-354 (Ferrovia Transcontinental) vai sair do Rio, passar em Minas Gerais, ganhar a capital do País, seguir para Goiás, Mato Grosso, Rondônia, chegar ao Acre, no município de Boqueirão da Esperança, e, possivelmente, se integrar ao sistema ferroviário do Peru. A cidade no Rio onde a ferrovia vai começar ainda não foi definida.

A estrada de ferro ligaria o Oceano Atlântico, pelo litoral Norte Fluminense, à costa do Pacífico, além de criar mecanismo de transporte de trilhos em seis estados brasileiros com acesso ao mar. O trecho deve ter 4.400 quilômetros, segundo previsão da Valec, Engenharia e Construções Ferroviárias, empresa pública responsável por administrar a infra-estrutura do transporte de trilhos.

IMPACTO AMBIENTAL

O projeto ainda está no papel, mas o governo já autorizou a construção e a administração do trecho pela Valec. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União. Levantamentos aéreos de relevo têm que ser realizados para analisar o impacto ambiental e os mecanismos necessários para a realização da obra. O custo deve ultrapassar os R$ 10 bilhões, e o projeto levará cerca de dois anos para ser iniciado.

A engenheira ferroviária Cátia Cavalcanti, da Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística (Central), afirma que a maior dificuldade desse tipo de projeto grandioso é conseguir as licenças ambientais, mas a iniciativa é benéfica para a estrutura de transportes e para o próprio meio ambiente, a longo prazo.

VALORIZAÇÃO DO ACRE

“Seria um benefício econômico imensurável para o estado e do ponto de vista ambiental. Ferrovias sempre diminuem a emissão de poluentes. É uma iniciativa nova, pois nós temos uma cultura de transportes de carga com predominância costeira”, afirmou a engenheira.

O deputado do Acre Iderlei Cordeiro (PPS) aposta na tese da integração. Afirma que seu estado ganhará uma porta para o Brasil e formalizará parceria com o Peru. “Todo mundo via o Acre como o final do Brasil, mas o estado deve ser visto como uma passagem para o Pacífico”, defende ele.

Alerta para o risco de tráfico

Ao cruzar tantos estados e até mesmo se ligar ao sistema de um país vizinho, porém, a Transcontinental abre a questão da vulnerabilidade diante do tráfico de drogas e armas. O presidente da Comissão de Segurança da Câmara, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), afirma que toda iniciativa de integração nacional é muito bem vinda, mas alerta que uma obra desse porte deve vir acompanhada de políticas anti-tráfico, porque a privatização dos transportes de trilhos acabou enfraquecendo a atuação dos policiais ferroviários. “Com a privatização, a polícia ferroviária virou um fantasma. É preciso haver um pacto binacional de combate às drogas. Pode significar um incremento no tráfico de drogas se não houver atenção a segurança”, afirmou ele. Além do tráfico de drogas e armas, ferrovias também são utilizadas para contrabando.

POSSIBILIDADE DE TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
Do ponto de vista econômico, a Transcontinental é vista como mecanismo de integração transatlântica, mas para os aventureiros a viagem poderia ser uma aula de Brasil. Se o concessionário da linha decidir permitir um vagão de passageiros, o viajante pode conhecer seis estados em um só roteiro. A viagem, que duraria aproximadamente uma semana para percorrer os 4.400 quilômetros, contemplaria o litoral do Rio, passando pelas montanhas de Minas Gerais e o Cerrado de Brasília. Antes de chegar ao Mato Grosso, o trem passa por dois municípios de Goiás. O destino é o Acre.

Como o modelo inicial do projeto é para transportar cargas, o transporte de passageiro não faz parte do estudo. Mas a decisão cabe à empresa que levar a concessão, em leilão público.

A EF-354 faz parte do projeto de reestruturação da malha ferroviária brasileira, previsto na MP 427/08, aprovada quinta-feira pelo Senado. Além da EF-354, outras três ferrovias seriam implantadas: a 151, de Belém (PA) a Panorama (SP), a EF-267, de Panorama (SP) a Porto Murtinho (MS), e a EF-334, de Ilhéus (BA) a Alvorada (TO).

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