quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

04/12/2008 01:21:00
Carioca quer acender o Rio
Em Campo Grande, Pedro mostra árvore sem poda: risco. Foto: Jadson Marques / Agência O DIA
Ranking de queixas na prefeitura é liderado por lâmpadas queimadas, que aumentam insegurança

Daniela Dariano

Rio - Traçar as necessidades de melhorias bairro a bairro parece tarefa difícil, que poderia atrasar os resultados da próxima gestão municipal. A boa notícia é que o mapa dos problemas da cidade já está pronto e foi feito pelos próprios moradores. As queixas têm endereço certo e estão dispostas em um ranking que pode orientar o futuro prefeito a definir suas ações prioritárias. Eduardo Paes já agradará a muita gente se começar trocando as lâmpadas queimadas, reclamação número 1 dos cariocas.
No total, são em média 16 mil solicitações feitas à Ouvidoria do município, que organiza listas mensais com as principais reclamações e os bairros responsáveis pelas demandas. “Temos relatórios em tempo real e a rotina de enviar mensalmente aos secretários e ao prefeito os relatórios. É um banco de dados que deve ser aproveitado pelo gestor. O prefeito poderá saber quais bairros e ruas mais problemáticos”, aconselha a coordenadora da Ouvidoria Central, Carmem Lúcia Castro.
As duas queixas-líderes — falta de luz e poda de árvores — indicam um caminho para a prefeitura contribuir para a Segurança Pública. “As duas reclamações estão ligadas à sensação de insegurança dos cariocas”, diz Carmem.
Quinto entre os bairros mais reclamões, Copacabana, com 2.211 solicitações feitas de janeiro até outubro deste ano, é um dos que pedem socorro. “O Bairro Peixoto está às escuras. A praça tem mais de 10 lâmpadas queimadas e, por não haver poda de árvore, fica ainda mais escuro”, queixa-se Cristina Marciano, 54 anos, avisando que os moradores organizam o movimento “SOS Peixoto”.
Campeão de reclamações, Campo Grande é responsável por quase o dobro das queixas de Copa no mesmo período: 4.299, com as mesmas solicitações do bairro da Zona Sul.
Em frente à sua casa, o corretor Pedro de Lima Pedrosa, 42, mostra uma árvore que há sete anos começou a arrebentar a calçada e o muro e até invadiu sua casa. A falta de poda faz com que a fiação passe entre galhos e folhas, oferecendo risco de curto circuito, que pode deixar sem luz e telefone a área, além do perigo de eletrocutar alguém. “Há quatro anos, entrei com processo na Fundação Parques e Jardins para retirada da árvore. O engenheiro falou para eu procurar a Light. E a Light me mandou de volta para a prefeitura”, conta.
MAIORIA DAS RECLAMAÇÕES É FEITA VIA INTERNET
A cultura própria de cada bairro influencia as estatísticas da Ouvidoria. Existem regiões que costumam reclamar mais e outras nem tanto, observa a coordenadora da Ouvidoria Central, Carmem Lúcia Castro. Os denunciantes dos problemas no Centro (2º lugar no ranking de queixosos), por exemplo, não são necessariamente moradores da região. Como muitos trabalham lá e usam a Internet, aproveitam para fazer a queixa pelo site da prefeitura (www21.rio.rj.gov.br/siso/internet/ouvidoria.htm). É pelo computador que são enviadas 82,5% das reclamações — 14% são feitas por telefone às ouvidorias dos diferentes órgãos municipais e o restante, pessoalmente.
Carmem observa que Campo Grande, além de ter uma população volumosa, também chega à liderença por conta de uma cultura de utilização assídua de serviços municipais. Tijuca, o 3º maior reclamão, seria o bairro, segundo ela, que vem mostrando um aumento no número de queixas, refletindo insatisfação crescente, principalmente com relação à violência.
LIXO NAS RUAS É QUEIXA CONSTANTE NO CENTRO
Vice-líder no quesito irritação, o Centro tem duas prioridades: trânsito — terceiro principal motivo de queixa no município todo — e limpeza de ruas. “As reclamações sobre trânsito são, por exemplo, do guarda que não estava no local, de um cruzamento que precisava ser mais bem fiscalizado”, explica Carmem Lúcia Castro.
A falta de limpeza salta aos olhos. Jovino Pires, 53 anos, balconista de uma padaria no Centro, chega a fechar as portas quando chove, porque o lixo, que em dias secos fica acumulado do lado de fora, acaba invadindo o estabelecimento. “Trabalho aqui há 30 anos e sempre teve esse problema. Ultimamente tem piorado, porque os catadores acumulam o lixo nas calçadas. Quando chove, inunda e o lixo fica boiando”, reclama. Na esquina das ruas Pedro Ernesto e João Álvares, na Gamboa, o problema também é uma constante.
Além da insegurança causada pela falta de luz e árvores que não são aparadas, a Tijuca reclama do caos no trânsito. O taxista Manoel Ferreira da Silva, 52, trabalha no ponto da Praça Saens Peña há 8 anos: “O principal motivo são os ônibus que param em fila dupla”.
A Ouvidoria é a última instância a que o carioca recorre. Em geral, ele busca o teleatendimento, como o Disque-luz no caso de lâmpadas queimadas. Quando a demanda é maior do que a agilidade em atender a população, a Ouvidoria — com 55 ouvidores setoriais coordenados pela Ouvidoria Central — recebe a reclamação e a direciona para a autoridade do setor envolvido.

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