sábado, 1 de novembro de 2008

Prefeito eleito, Eduardo Paes coleciona superstições

01/11/2008 21:05:00

Élcio Braga

Rio - Nem só aos marqueteiros Eduardo Paes agradece a vitória nas eleições para prefeito do Rio. Ah, se não fossem o padre, o padeiro e o barbeiro — personagens de histórias curiosas vividas pelo então candidato durante a campanha. No mínimo, o peemedebista teria um estresse de uma figa. “Sou supersticioso com tudo, um monte de coisas que eu não faço e as pessoas nem percebem”, admite ele, que no dia da eleição vestiu camisa-talismã, comeu bolo da sorte — feito pelo padeiro Douglas —, viu mulher misteriosa na Igreja da Penha e visitou barbearia pé-quente.

TV O DIA: Paes fala sobre superstições, religião e manias

Superstições estão fora do plano de governo do novo prefeito, mas não saem de sua cabeça. Na apuração dos votos, acompanhada de casa, quase surtou. “Estava numa posição quando a gente passou o Gabeira. Daquela posição não saí enquanto não terminou a apuração”, diz. Mais supersticioso — confidenciou — só o governador Sérgio Cabral: “Ele (Cabral) não deixava os outros se moverem”.

Pretensões não faltam para o peemedebista: “Pretendo ser presidente da República e, depois, secretário-geral da ONU”. É bom nem duvidar. Manifestou a intenção em 1996, quando também previu chegar a alcaide. Pouca gente o levou a sério: “Vou ser o sucessor do Luiz Paulo Conde na prefeitura”.

Se depender de crendices, Paes vai longe. Na eleição para vereador, em 1996, votou com a mesma camisa usada quando lançara a candidatura. Era para dar sorte. Faturou 80 mil votos — uma façanha à época.

No domingo da eleição, pegou a mesma camisa. “Só que ela está muito velha. É uma camisa jeans que eu usei 12 anos atrás. Mas na eleição, eu a vesti no banheiro, olhei-me no espelho e a tirei. Fui para a rua com outra camisa. Mas é pé-quente”, afirma.

No dia do segundo turno, mais superstição. Antes de votar, correu à Igreja da Penha, como de costume, e ficou impressionado ao ver uma mulher. “Não sei se era a mesma senhora que vi no dia do primeiro turno. Eu subia a escadaria e ela a descia. Cismei que era a mesma mulher. Pensei: vou ganhar a eleição”.

Paes considerou um sinal enviado pelos Deuses do futebol a 31ª rodada do Brasileirão. Às vésperas da eleição, Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo fizeram 15 gols — seu número — para vencer os adversários. “Os times derrotados têm uniforme verde”, comparou, em alusão ao verde Fernando Gabeira. “Aquilo me impressionou muito. Falei: não é possível que eu não vá ganhar esta eleição”, observa.

Paes acredita em destino. Morou com os pais na Rua Prefeito Mendes de Moraes, em São Conrado. Hoje, mora na Rua Hildebrando de Araújo Góis, na Barra. Soube há pouco tempo que Hildebrando foi prefeito em 1946 e 1947. Isso o levou a matar outra charada: “E aí vai ver que eu vou ser prefeito do Rio”. O prefeito eleito vê com naturalidade a crença. “Tem um monte de coisas que acontece ao longo desses dias mais tensos que você vai se agarrando para dizer que isso é coincidência e é a favor. Todos temos um pouco isso”, explica.

Neste domingo, Paes é esperado às 9h na Igreja Cristo Operário, na Vila Kennedy, para agradecer a ajuda extra na eleição. Vai se sentar no primeiro banco, à esquerda do altar, como fez na dezena de vezes que esteve na paróquia. É o banco da sorte.

CHORO EM IGREJA E BOLO DISPUTADO

Apreensivo com a disputa, Paes buscou energia no segundo turno na Igreja Cristo Operário e Santo Curad’Ars, na Vila Kennedy. “Está muito difícil”, confidenciou, emocionado, ao padre José Carlos Lino de Souza. O candidato recebeu a bênção: o Salmo 91.

O espaço é sagrado para Paes. Pouco depois de contrariar as previsões e ser indicado candidato do poderoso PMDB, esteve no templo. Lá ouviu a canção ‘Sou um milagre’, cantada pelo Grupo Maranatah, destinada aos desesperançados. “Aquilo que parecia impossível / Aquilo que parecia não ter saída / Aquilo que parecia ser minha morte / Mas Jesus mudou minha sorte /Sou um milagre. Estou aqui”, diz a canção

“Num domingo, antes do primeiro turno, fizemos a oração. Ele chorou. Na semana seguinte ele voltou para aprender a música”, conta padre Lino, vascaíno, assim como Paes, o governador e o presidente Lula. Paes conheceu o bolo da vitória no dia do segundo turno, em Santa Margarida, em Campo Grande. No meio da multidão que o assediava, um rapaz o desafiou, esticando um prato: “Eduardo, você é do povão mesmo? Então prova”.

Paes abocanhou alguns pedaços e se surpreendeu: “O bolo é bom”. A receita é da Padaria Shalon. “Ele prometeu voltar ao bairro para comer mais um pedaço”, espera Douglas. No dia seguinte, todo mundo queria provar a receita.

A RECEITA DO BOLO DA VITÓRIA

Douglas dá a receita do bolo que, acredita, ajudou a dar sorte ao então candidato Eduardo Paes para se tornar o novo prefeito do Rio: Duas xícaras de açúcar e três de farinha de trigo. Adicione 50 gramas de Volumex Creme, duas colheres de fermento, três ovos, dois tabletes de margarina e uma colher de chá de essência de abacaxi. “Coloque as rodelas de abacaxi numa forma e despeje calda feita com duas xícaras de açúcar e uma colher de chá de baunilha. Ponha a massa por cima e leve ao forno em 180 graus por 15 a 20 minutos. Pronto! O Eduardo adorou”, conta o padeiro.

DA VOLTA DO CLIENTE FAMOSO

O barbeiro Antônio Pacífico, 30 anos, está à espera de Paes com a tesoura amoladíssima. Ele definira a barbearia Ebenezer, em Santa Margarida, Campo Grande, como pé-quente. Nela soube ter passado Marcelo Crivella nas pesquisas do 1º Turno. Empolgado, prometeu cortar o cabelo se vencesse. O corte da moda no bairro é o ‘arrepiadinho’, sucesso no funk. “Gosto de deixar o cliente à vontade. Ele tem postura. Deve manter o mesmo corte”, sugere Tony, como é mais conhecido. O corte custa R$ 7. Se Paes quiser economizar, pode optar pela máquina: R$ 3,99.

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