domingo, 25 de janeiro de 2009

TPM pode ser diagnosticada como transtorno, diz estudo

24/01/2009 15:49:00






Nova Iorque - A tensão pré-menstrual, disfunção hormonal que atinge de 20% e 40% das mulheres, está sendo revista por cientistas, que investigam uma versão mais acentuada da famosa TPM. A Associação de Psiquiatria Americana estuda agora casos de agravamento desses sintomas, cuja intensidade criaria uma nova classificação: transtorno disfórico pré-menstrual, ou TDPM. As informações são do jornal americano The New York Times.

As oscilações hormonais que normalmente se refletem na mudança de comportamento, deixando as mulheres mais vulneráveis à irritação e à sensibilidade, desencadeiam também alterações físicas como inchaço pelo corpo e dores de cabeça, descompasso que pode atingir quase metade da população feminina adulta.

Uma fatia muito menor dessas mulheres, no entanto, sofre de graves alterações de humor durante o período antecedente à menstruação. Essas mulheres, especificamente, teriam dificuldades muito mais acentuadas de manter relações equilibradas no ambiente de trabalho, familiar ou social "naqueles dias", mergulhando numa profunda tristeza com picos de frustração e ansiedade nos dias anteriores ao ciclo menstrual.

Para buscar uma forma de tratamento direcionada para o problema, a Associação de Psiquiatria Americana pretende incluir até o ano de 2012 a disfunção como "doença" na cartilha de diagnósticos médicos oficiais.

Essa idéia tem sofrido críticas de parte da classe médica, que acredita que, desconsiderando a normalidade do período de alterações de comportamento antes da menstruação, a medida possa desencadear a discriminação de mulheres "portadoras do transtorno disfórico pré-menstrual".


Discussão histórica

Embora a discussão sobre o tema tenha aquecido recentemente, as pesquisas sobre essa forma grave de TPM não vem de hoje. A defesa da existência do transtorno disfórico pré-menstrual já suscitou protestos apaixonados há mais de 20 anos, quando a mesma Associação de Psiquiatria Americana considerava adicionar a nova categoria de diagnóstico ao Manual de Diagnóstico de Transtornos Mentais americano.

Na época, feministas também argumentaram que a classificação como 'doença' reforçaria o estigma da TPM, a exemplo das críticas que têm ocorrido nos dias de hoje, classificando as mulheres mais sensíveis ao período menstrual ao diagnosticá-las como "doentes mentais", como poderia ser interpretado pela nova nomenclatura e definição.

Essa classificação, por exemplo, poderia abrir precedente em brigas judiciais de custódia familiar em casos de separação, prejudicando o pedido de guarda das mães para ficarem com os filhos. "Para evitar isso, médicos pretendem especificar que a doença se trate de um tipo de 'transtorno depressivo'", esclarece o psiquiatra Nada L. Stotland, presidente da associação.

Um dos mais rigorosos estudos para diferencia a TPM do transtorno disfórico pré-menstrual foi publicado em março de 2008. Na investigação, especialistas seguiram rigorosos critérios de avaliação aplicados em 1.246 mulheres escolhidas aleatoriamente em regiões urbanas e rurais americanas.

Elas preencheram questionários e relataram, através de diários, a manifestação dos sintomas que tinham e também cederam para análise amostras de urina para a verificação das taxas hormonais durante dois meses.

Co-autora do estudo, a cientista social Sarah Gehlert, da Universidade de Chicago, constatou que 1,3% das mulheres em idade reprodutiva que participaram do estudo apresentaram mudanças comportamentais e hormonais graves em comparação ao restante das voluntárias, revelando ter conseqüências sociais extremamente negativas nos dias antecedentes ao período menstrual.

Auxílio médico

Enquanto aumentam as discussões acerca da adoção de um novo diagnóstico para a TPM - em caso de agravamento dos sintomas -, desde 2000 anti-depressivos e novos tipos de pílulas anticoncepcionais já são distribuídos nos Estados Unidos para tratar do problema.

Com a inclusão do novo diagnóstico, parte dos médicos acredita que um tratamento especifico possa ser validado, o que também permitiria que as seguradoras de saúde pudessem ser requisitadas para oferecer tratamento.

"Além disso, este reconhecimento seria importante para estimular a investigação e o desenvolvimento de novas terapias e remédios de empresas farmacêuticas", disse Peter J. Schmidt, psiquiatra do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos.


Crítica especializada

Para a psicóloga Paula Caplan, pesquisadora da Universidade de Harvard, a nova classificação é equivocada. Segundo a estudiosa, mulheres que sofrem de TPM têm o comportamento afetado por fatores sociais e interpessoais, geralmente a causa principal do problema, e não apenas biológicos e hormonais.

"Estudos têm mostrado que aquelas mulheres que têm a TPM mais aprofundada em seus efeitos são também, fora do período menstrual, mais suscetíveis a ter dificuldade de relacionamento em outros momentos da vida", afirmou. "estas mulheres precisam de ajuda para enfrentar seus problemas, e não de novos medicamentos. Estamos apenas mascarando esses problemas que precisam ser tratados normalmente, e não como uma doença mental", observou.

As informações são do Terra

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