sábado, 9 de janeiro de 2010

Opinião - Carlos Lessa: Um café, por favor

09.01.10 às 01h14

Carlos Lessa - Professor e economista

Rio - A economia do café escravo surgiu, física e espacialmente, na região onde estava a capital política do novo Estado. Ou seja, nas primeiras décadas do Século XIX, o Rio de Janeiro assiste à invenção do café como produto. O café não era produto do tráfico colonial, como o açúcar, mas, por ser mais barato, desalojou o chá como bebida estimulante.

Beber café associou-se à ideia da atividade de trabalho no mundo industrial. É erro considerar o café supérfluo. Tornou-se o terceiro produto do comércio mundial do Século XIX (1850), a partir da produção das fazendas escravagistas brasileiras, que uniram a terra que não tinha valor ao valor que era a mão de obra escrava. Café e algodão foram importantes commodities da Revolução Industrial. Curioso é que é muito mais difícil implantar uma plantação de café, que leva seis anos para dar a primeira safra, do que montar uma fábrica têxtil, que operaria em, aproximadamente, dois. O café esteve na base produtiva do Brasil independente.


A unidade nacional está impregnada dele. Ele é um investimento de longo prazo e que representava, nos primórdios, imobilização de capital enorme sobre a mão de obra escrava. A economia do café surge com financiamento capitalista complexo. Numa situação mercantil também complexa, nasce como um subproduto da economia do ouro. Quem controlava essa economia era o comércio escravagista, que bancou, financiou a fazenda do café, em troca do privilégio de ser o comercializador do café.

A elite brasileira tem uma grande propensão a se modernizar, desde que mantenha o seu patrimônio. Mantera escravidão até quase o final do Século XIX, além de ser uma proeza geopolítica, é um insulto a nossa formação.

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